Há
muito tempo carregava em mim uma imensa curiosidade para conhecer as
celebrações do Dia dos Mortos. No México, essa data é muito importante e,
diferente do Brasil e outros países, não é uma data para chorar pelos
antepassados e sim, festejar como se eles ainda estivessem vivos. Mas
não é todo o país que comemora dessa forma. A cultura americana infiltra cada
vez mais nos costumes mexicanos, como ocorre aqui na região Noreste e na região
Noroeste, ambas que fazem fronteira
com os Estados Unidos. Nessas regiões então, é mais comum comemorar o Halloween, em vez do tradicional Dia dos
Mortos, que era comemorado pelos índios que aqui viviam. Os índios acreditavam
na vida após a morte, por isso até hoje se conserva a tradição de fazer altares
e oferendas aos seus antepassados, com a crença de que a alma retorna à terra
entre a noite do dia 1º e a manhã do dia
2 de novembro.
Desde
que aqui cheguei, procurei saber em qual parte se comemora tradicionalmente
essa data e me disseram que na região central e sul do país. Pesquisando um
pouco mais, descobri que nos arredores da cidade de Morelia, capital do estado de Michoacán,
esse festejo é ainda maior por haver um grande investimento da secretaria de
turismo para esses festejos. Sendo assim, entre o Dia de Todos os Santos e Dia
dos Mortos, passamos por cinco distritos da região: Morelia, Pátzcuaro, Isla de Janitzio, Tzintzantzan e, por fim, Quiroga.
Cartaz da Secretaria de Turismo para divulgação das comemorações do Dia dos Mortos.
Mesmo
tendo um conhecimento prévio do que veria, é uma coisa que choca e, ao mesmo
tempo, nos encanta. Nas salas das casas e nas ruas, montam-se os altares
assemelhando-se ao uso da árvore de Natal. Os altares podem conter três ou sete
andares, representando o paraíso, purgatório e a vida terrena. Para isso, colocam-se
nos altares elementos, como velas, flores, frutas, as comidas que a pessoa
gostava e, também, objetos pessoais. Cada elemento tem o seu lugar correspondente
no altar. A crença diz que a pessoa não vai retornar e comer a comida ofertada,
mas provará a essência e seguirá pelo caminho iluminado pelas velas.
Alguns altares em exposição em Morelia.
No
cemitério, as pessoas levam suas oferendas e passam toda a noite em vigília. É inacreditável
ao ver que, mesmo fazendo muito frio, velhos, adultos e crianças permanecem ali
toda a noite, enrolados em seus cobertores, orando ou dormindo sobre o túmulo
de seus parentes mortos. Ao mesmo tempo em que vemos essa cena, nos arredores
do cemitério há muita festa, venda dos mais diversos produtos, música, comida
e, principalmente, bebida!
Vigília em um cemitério na Ilha de Janitzio.
Assim
como os altares me remeteram às árvores de Natal, as caveiras de açúcar fizeram-me
recordar dos novos ovos de páscoa. E descobri que aqui eles não existem! A
páscoa não é uma data comemorada por aqui. As caveiras de açúcar (hoje também
já existem as de chocolate), também são feitas em formas e é o doce favorito
das crianças nessa época. Também há o Pan de Muerto (Pão de Morto), que é um
delicioso pão doce coberto com canela e açúcar, que é vendido nessa época do
ano.
À esquerda, as caveiras de açúcar e à esquerda, a forma em que são feitas.
Adultos e crianças se vestem de caveiras ou catrinas e saem pelas ruas.